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Por Domenico Palesse - Presas em um país por causa de um documento que ainda não as reconhece como mulheres. É a "guerra na guerra" que estão vivendo centenas de mulheres transgênero eu tentam fugir da Ucrânia.
Uma vez que elas conseguem chegar às fronteiras, precisam voltar porque, com documentos oficiais nas mãos, não podem deixar o país por conta da lei marcial que entrou em vigor logo após o início da invasão russa em 24 de fevereiro.
"Nós tivemos centenas de casos similares. A única solução é ir ao seu médico e depois, com um certificado, ir para um escritório militar para serem eliminadas da lista de inscrição militar", informa um porta-voz das associações LGBTQIA+ de Kiev.
Difícil é ter que explicar isso para quem, com uma bolsa na mão, conseguiu chegar à fronteira após dias de viagem escapando de tiros de morteiros e bombas.
Em Chelm, a poucos quilômetros da fronteira entre Polônia e Ucrânia, são poucos os que admitem ter amigas trans. A questão de gênero e de homossexualidade na Ucrânia, em particular, é ainda um tabu para muitas pessoas. Os direitos da população LGBTQIA+ não são protegidos por nenhuma lei nem há grandes debates sensíveis sobre o tema. Mas, há aqueles que falam abertamente sobre isso.
"Algumas das minhas amigas ainda estão na Ucrânia e estão vendo como podem atravessar a fronteira com os seus passaportes", diz Renata, 44 anos, após conseguir escapar de Kiev.
Histórias e relatos similares aparecem também nas redes sociais e nos blogs de tantas associações que estão ajudando toda a comunidade ucraniana. Algumas delas foram inclusive aconselhadas a mentir, dizendo na fronteira que perderam os documentos e assim possam ser reconhecidas como mulheres.
"As guardas te despem e tocam por todas as partes. Você pode ver nos rostos delas que estão se perguntando 'o que você é?', como um tipo de animal ou algo do tipo", relatou Judis ao jornal "The Guardian".
Segundo algumas estimativas das organizações ucranianas, centenas de pessoas trans foram para as fronteiras, mas cerca de 90% foram mandadas de volta.
Uma das que conseguiram fugir foi Zi Faamelu, uma mulher trans famosa no país porque participou de um reality show chamado "Stars Factory". "Eu estou em perigo, não sei o que fazer. Eu tenho necessidade urgente de ajuda porque todo mundo aqui é homofóbico e transfóbico", disse em suas redes sociais após informar que tinha ido "para outro país". "Estou ainda viva, passei de uma outra maneira que não posso contar os detalhes, mas logo espero conseguir dizer para vocês o que aconteceu comigo", acrescentou.
Dos confins ucranianos, o eco de tantas histórias também chega na Itália. Fabrizio Marazzo, porta-voz do Partido Gay para os Direitos LGBT+, pediu para que o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, "permita que também médicos italianos voluntários se dirijam às fronteiras para certificar as pessoas trans e fazê-las sair da Ucrânia"
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